Só não se perca ao entrar no meu infinito particular...
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre(...)Volta a pergunta maldita: terei realmente escolhido certo? E o que é o “certo”? Digo que todo caminho é caminho, porque nenhum caminho é caminho.
Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
[Caio Fernando Abreu - O Inventário do Irremediável]
domingo, 21 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
O toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora.
Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha pra mim, sorri. Quanto tempo dura?
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
... Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim,há muito tempo estava
acostumado a apenas consumir pessoas como se consomem cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe mas foi só mais um engano? E quantos ainda restam na palma da minha mão? Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com essa fome na boca...
"Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo. "
"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram। Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso." NÉ
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
domingo, 9 de novembro de 2008
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham a você.
Assim como o Oceano, só é belo com o luar
Assim como a Canção, só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem, só acontece se chover
Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor, não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!
domingo, 26 de outubro de 2008
sábado, 11 de outubro de 2008
A Voz Do Silêncio -
Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.
Simples, rápido! E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.
Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.
Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"
É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.
Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.
E fala alto.
É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
O medo do Amor
Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.
O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.
E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.
Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.
Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.
Sentir-se amado
O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?
Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.
domingo, 5 de outubro de 2008
Tolerância pro amor
Todos nós temos um limite de tolerância em relação a tudo. Mas nas questões amorosas este limite tende a se esticar em função das nossas carências, das nossas fantasias, da nossa esperança de que, da próxima vez, as coisas irão dar certo. Mas não dão. E não dão de novo. Até onde você pode chegar?
Você teve uma relação terminada, sofreu muito, mas até hoje o cara segue seduzindo você। Você não dá a mínima, até que um dia cede, mas aí ele é que não corresponde. Você volta a ficar na sua, ele volta a seduzí-la, você resiste, resiste, resiste, até que um dia você cede de novo, marca um encontro, e ele cancela. E assim passam-se meses, anos, numa situação absurda: ele atrás de você, e quando você diz sim, ele cai fora. Se você não consegue dar um basta nisso, é porque você ainda tem tolerância pra gastar.
Ela lhe telefona e você larga tudo para vê-la, mas no dia seguinte ela volta pro namorado.
O sexo é ótimo entre vocês, mas quando não estão na cama, vocês não conseguem trocar meia-dúzia de frases sem brigar.
Vocês adoram os mesmos filmes, os mesmos programas, são apaixonados um pelo outro, mas sexualmente há uma falta de atração total.
Você se sente infeliz, mas não tem coragem de começar vida nova.
Você se arrependeu de deixá-la, mas seu orgulho impede de pedir pra voltar.
Até onde podemos ir? Até o limite do suportável. Um belo dia, depois de inúmeras repetições do mesmo erro, a gente desiste. Com tristeza pela perda, mas com alegria pela descoberta, diz pra si mesmo: “cheguei até aqui”. E, então, a vida muda.
domingo, 28 de setembro de 2008
O amor não acaba, nós é que mudamos
Um homem e uma mulher vivem uma intensa relação de amor, e depois de alguns anos se separam, cada um vai em busca do próprio caminho, saem do raio de visão um do outro. Que fim levou aquele sentimento? O amor realmente acaba?
O que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos, que são subtituídos por outros no decorrer da vida. As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades. O amor costuma ser amoldado à nossa carência de envolvimento afetivo, porém essa carência não é estática, ela se modifica à medida que vamos tendo novas experiências, à medida que vamos aprendendo com as dores, com os remorsos e com nossos erros todos. O amor se mantém o mesmo apenas para aqueles que se mantém os mesmos.
Se nada muda dentro de você, o amor que você sente, ou que você sofre, também não muda. Amores eternos só existem para dois grupos de pessoas. O primeiro é formado por aqueles que se recusam a experimentar a vida, para aqueles que não querem investigar mais nada sobre si mesmo, estão contentes com o que estabeleceram como verdade numa determinada época e seguem com esta verdade até os 120 anos. O outro grupo é o dos sortudos: aqueles que amam alguém, e mesmo tendo evoluído com o tempo, descobrem que o parceiro também evoluiu, e essa evolução se deu com a mesma intensidade e seguiu na mesma direção. Sendo assim, conseguem renovar o amor, pois a renovação particular de cada um foi tão parecida que não gerou conflito.
O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.
Martha Medeiros
qual é?
Subir aquela grande montanha de esperança
Por um destino
Eu percebi rapidamente quando eu soube que o mundo
Nunca seria essa fraternidade de homens
Seja qual for o significado
E então eu choro algumas vezes
Quando estou deitada na cama
Apenas pra esquecer tudo isso
Que está em minha cabeça
E eu, eu me sinto um pouco estranha...
E então eu acordo de manhã
E piso no lado de fora
E dou uma respirada profunda
E eu grito com toda a força de meus pulmões
O que está acontecendo? (Qual é?)
Eu disse: hey yeah yeaah, hey yeah yea
Eu digo: hey! qual é?
Eu tentei oh meu Deus, eu tentei?
Eu tentei todo o tempo nesta instituição
E rezei... oh meu Deus como rezei
Por uma revolução...
E então eu choro algumas vezes
Quando estou deitada na cama
Apenas pra esquecer tudo isso
Que está em minha cabeça
E eu, eu me sinto um pouco estranha...
(...)
sábado, 27 de setembro de 2008
Um cara difícil
Quando vocês estiverem na platéia de um show com três mil pessoas, ele vai encasquetar que um homem de camiseta verde está olhando com insistência para você, e vai ter certeza de que você está retribuindo o olhar, e você vai perder a voz tentando explicar, no meio daquela barulheira, que tem pelo menos 800 marmanjos de camisa verde em volta, todos olhando pro palco. Aliás, se estivessem olhando para você, qual o problema, ele não se garante?Que audácia, você peitou o cara difícil. Ele vai deixá-la sozinha no show e desligará o celular por três dias. Se você não amá-lo, o prejuízo será apenas a bandeirada do táxi que você terá que pagar para voltar para casa, mas se você o ama, prepare-se para esvair-se em explicações e declarações, a fim de trazê-lo de volta à realidade. Um cara difícil exige uma paciência oceânica. Ele vai ser romântico e muito bruto. Ele vai ser generoso e muito casca-grossa. Ele vai dizer a verdade e vai mentir às vezes. Ele vai fazê-la se sentir uma eleita entre todas e depois vai dar mole para muitas. Ele vai implicar com as mínimas coisas, e com as grandes também. Ele vai exibir qualidades que você nem sabia que um homem poderia ter, e em troca vai abusar de todos os defeitos que você sabia que todo homem tinha. Ele vai ser ótimo na cama. Vai ser um perigo dirigindo um carro. Vai ser gentil com a sua mãe. Vai ser um brucutu com a mãe dele. Ele mudará de humor a cada 20 minutos, ele vai brigar por nada, vai beijá-la demoradamente por horas e, com essa bipolaridade bem ou mal disfarçada, ele a deixará tão tonta e exausta que você pensará que foi atropelada por um trem descarrilado.-Quem sou eu?- será sua primeira pergunta ao acordar sobre os trilhos. No primeiro encontro, pergunte:-Você é um homem difícil?Se ele responder que é, procure imediatamente um psicanalista. Para você, santa. "
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
simplicidade
Quando tinha 15 anos, esperava um dia ter um namorado... seria bom se fosse alegre e amigo...
Quando tinha 18 anos, encontrei esse garoto e namoramos; ele era meu amigo, mas não tinha paixão por mim.
Então percebi que precisava de um homem apaixonado, com vontade de viver, que se emocionasse...
Na faculdade saía com um cara apaixonado, mas era emocional demais.
Tudo era terrível, era o 'rei dos problemas', chorava o tempo todo e ameaçava suicidar-se.
Descobri então, que precisava de um rapaz estável.
Quando tinha 25 anos encontrei um homem bem estável, sabia o que queria da vida; mas era muito chato: queria sempre as mesmas coisas dormir no mesmo lado da cama, feira no sábado e cinema no domingo.
Era totalmente previsível e nunca nada o excitava..
A vida tornou-se tão monótona que decidi que precisava de um homem mais excitante.
Aos 30, encontrei um tudo de bom, brilhante, bonito, falante e excitante, mas não consegui acompanhá-lo. Ele ia de um lado para o outro, sem se deter em lugar nenhum.
Fazia coisas impetuosas, paquerava qualquer uma e me fez sentir tão miserável, quanto feliz.
No começo foi divertido e eletrizante, mas sem futuro.
Decidi buscar um homem com alguma ambição para com ele construir uma vida segura.
Procurei bastante, incansavelmente... Quando cheguei aos 35, encontrei um homem inteligente, ambicioso e com os pés no chão. Apartamento próprio, casa na praia, carro importado... Solteiro e sem rolos! Pensei logo em casar com ele. Mas era tão ambicioso que me trocou por uma herdeira rica...
Hoje, depois de tudo isso, gosto de homens com pinto duro... E só!
Nada como a simplicidade...
Um bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina! A mãe da criança,
então, se põe a sonhar com o dia em que a sua princesinha terá um
namorado de olhos verdes e casará com ele, vivendo feliz para sempre.
A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações.
Laçarotes, babados, contos de fadas: toda mulher carrega a síndrome de
Walt Disney.
Até as mais modernas e cosmopolitas têm o sonho secreto de encontrar
um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas,
nos conformamos com analistas de sistemas, gerentes de marketing,
engenheiros mecânicos. Ou mecânicos de oficina mesmo, a situação não
anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, nos ajudam
com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer
em nos levar para jantar. São príncipes à sua maneira, e nós,
cinderelas improvisadas, dizemos sim! sim! sim! diante do altar; mas,
lá no fundo, a carência existencial herdada no berço jamais será
preenchida.
Queremos ser resgatadas da torre do castelo. Queremos que o nosso
pretendente enfrente dragões, bruxas, lobos selvagens. Queremos que
ele sofra, que vare a noite atrás de nós, que faça tudo o que o José
Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas.
Queremos ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num
saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de nos impedir de
embarcar।
O amor na vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo"
virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre
casais, é mais fácil ouvir eu "te amo" ao encerrar uma ligação
telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se
xingado por meia-hora. "Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa
paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a
mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou prepar o jantar para você
às dez da noite, te vira. Tchau, também te amo." E batem o telefone
possessos.
Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas.
Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos
abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam
meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são
heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a
maioria tentaria nos resgatar de um prédio em chamas, caso a escada
magirus alcançasse o nosso andar. Não é nada, não é nada, mas já é
alguma coisa.
Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma
mulher, mas vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam
quarto em hotéizinhos secretos, surpreendem com presentes, passagens
aéreas, convites inusitados. São inteligentes, charmosos, ousados,
corajosos, batalhadores.
Disputam nosso amor como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o
que recebem em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela,
suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é. .........
Perdoem esse nosso desvio cultural, rapazes. Nenhuma mulher se sente
amada o suficiente.
- Martha Medeiros -
Eu cresci. Por dentro e por fora (e, reconheço, pros lados).
Sou gente grande, como se diz por aí. E o mundo à minha
volta, à nossa volta, virou aldeia, somos todos vizinhos,
todos vivendo apertados, financeira e emocionalmente
falando. Saudade de uma alegria descomunal, de uma
esperança gigantesca, de uma confiança do tamanho do
futuro - quando o futuro também era infinito à minha frente.
tão seguro e inteligente como diz
Vai ver me trai toda semana
leva pra cama minha melhor amiga
faz intriga a meu respeito
fala mal dos meus defeitos
garanto que não usa a gravata que dei
Pode ser que você não goste
dos beijos que diz gostar
faz tudo só por fazer e me testar
Vai ver não tem nem emprego
pede dinheiro emprestado
bate com o carro no meio-fio
você não tem nenhum carácter
passou por mim e fingiu que não viu
Vai ver você morre de medo
de se olhar no espelho de dia
seu saldo está no vermelho
seu cão morto da fome
e você com raiva da vida
digamos que você não seja solteiro
e eu entrei numa fria
em todas as palavras que você ia me dizendo
me custava muito acreditar
que aquilo tudo estava acontecendo
Eu sentia que você não queria me magoar
Escolhia cada letra e cada pausa desviava o olhar
nas horas em que era inevitável dizer o que pretendia
Você pretendia me deixar, deixava claro
que fomos ótimos parceiros
mas que de agora em diante
era cada um pro seu lado apesar da saudade
Era assim que tinha que ser
Você não respondeu minhas perguntas
foi evasivo gaguejou
fugiu do assunto váirias vezes e quando
voltava era pra repetir:
não da mais
não da mais, não posso mais,
não vou deixar você tirar sua paz,
eu concordo
aceito, assino a separação,
não vou fazer escândalo
e quando eu encontrar com essa que tomou meu lugar
(é evidente não venha me negar),
vou ser civilizada
não vou quebrar pratos nem te constranger
você não vai mais me reconhecer,
não vai mais me proteger
não vai mais me amar,
não vai mais telefonar
não vai mais aparecer,
não vai mais dizer meu nome,
não, agora eu já não estou te ouvindo mais.
(Poesia Reunida)
Quero ventilação, não morrer um pouquinho a cada dia sufocada em obrigações e em exigências de ser a melhor mãe do mundo, a melhor esposa do mundo, a melhor qualquer coisa. Gostaria de me reconciliar com meus defeitos e fraquezas, arejar minha biografia, deixar que vazem algumas idéias minhas que não são muito abençoáveis.
Queria não me sentir tão responsável sobre o que acontece ao meu redor. Compreender e aceitar que não tenho controle nenhum sobre as emoções dos outros, sobre suas escolhas, sobre as coisas que dão errado e também sobre as que dão certo. Me permitir ser um pouco insignificante.
E na minha insignificância, poder acordar um dia mais tarde sem dar explicação, conversar com estranhos, me divertir fazendo coisas que nunca imaginei, deixar de ser tão misteriosa pra mim mesma, me conectar com as minhas outras possibilidades de existir. O que eu quero mais? Me escutar e obedecer o meu lado mais transgressor, menos comportadinho, menos refém de reuniões familiares, marido, filhos, bolos de aniversário e despertadores na segunda-feira de manhã. E também quero mais tempo livre. E mais abraços"...
Martha Medeiros
Pinto a realidade com alguns sonhos, e transformo alguns sonhos em cenas reais.
Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz. Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada. Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais. Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo. Nem eu sou o que penso que eu sou. Nem nós o que a gente pensa que tem.
Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol."
as rimas e frases reinventadas
as jogadas de efeito
os subterfugios e os hai-kais
anotações de diário
de todos os nomes que dei
para crises de adolescência
e carencias plagiadas
de todo minimalismo
clichês e letras de música
De toda minha literatura
você foi minha melhor página.
A beleza e a tristeza da vida podem estar em situações como esta:
- descobrir, tarde demais, que se ama uma pessoa.
Pode acontecer até com quem está ao nosso lado neste instante.
Parece que é um amor morno e sem graça, e que se acabar,
tanto faz, e só daqui a muitos anos descobrir que nada era mais forte
e raro do que este sentimento.
Tarde demais é uma expressão cruel.
Tarde demais é uma hora morta.
Tarde demais é longe à beça.
Não é lá que devemos deixar florescer nossas descobertas.
नेन्हुमा पेस्सोया é लुगर दे repouso
Interrompendo as buscas
ASSISTINDO AO ÓTIMO “CLOSER — Perto demais”, me veio à lembrança um poema chamado “Salvação”, de Nei Duclós, que tem um verso bonito que diz: “Nenhuma pessoa é lugar de repouso”. Volta e meia este verso me persegue, e ele caiu como uma luva para a história que eu acompanhava dentro do cinema, em que quatro pessoas relacionam-se entre si e nunca se dão por satisfeitas, seguindo sempre em busca de algo que não sabem exatamente o que é. Não há interação com outros personagens ou com as questões banais da vida. É uma egotrip que não permite avanço, que não encontra uma saída — o que é irônico, pois o maior medo dos quatro é justamente a paralisia, precisam estar sempre em movimento. Eles certamente assinariam embaixo: nenhuma pessoa é lugar de repouso.
Apesar dos diálogos divertidos, é um filme triste. Seco. Uma mirada microscópica sobre o que o terceiro milênio tem a nos oferecer: um amplo leque de opções sexuais e descompromisso total com a eternidade — nada foi feito pra durar. Quem não estiver feliz, é só fazer a mala e bater a porta. Relações mais honestas, mais práticas e mais excitantes. Deveria parecer o paraíso, mas o fato é que saímos do cinema com um gosto amargo na boca.
Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras, aprendemos a lidar com as nossas perdas e já não temos tantas ilusões. Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa que, sozinha, conseguirá corresponder 100% a todas as nossas expectativas — sexuais, afetivas e intelectuais. Os que não se conformam com isso adotam o rodízio e aproveitam a vida. Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não? O problema é que ninguém é tão maduro a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência. Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo, ainda guardamos resquícios dos contos de fada. Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco, nos seduzindo com propostas tipo “leve dois, pague um”, também nos parece tentadora a idéia de contrariar o verso de Duclós e encontrar alguém que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas.
Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento que já não é apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silêncio compartilhado, sem ninguém mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade. Quando se está há muitos anos com a mesma pessoa, há grande chance de ela conhecer bem você, já não é preciso ficar explicando a todo instante suas contradições, seus motivos, seus desejos. Economiza-se muito em palavras, os gestos falam por si. Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso?
Longas relações conseguem atravessar a fronteira do estranhamento, um vira pátria do outro. Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar, mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções. Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento. Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou café, a isso chama-se trégua. Uma relação calma entre duas pessoas que, sem se preocuparem em ser modernos ou eternos, fizeram um do outro seu lugar de repouso. Preguiça de voltar à ativa? Muitas vezes, é. Mas também, vá saber, pode ser amor.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Pra me conquistar...
basta dizer tudo aquilo
que nunca ouvi de ninguém
vestir como homem e não como gay
me tocar sem medo, sem segredo
entrar e sair da rotina sem que eu note
me levar para lugares exóticos
e lugares comuns
saber ficar em silêncio e assim me dizer tudo
gostar de rock como eu gosto
e de coisas que eu não gosto
compreender a vida como é
e buscar o outro lado
saber a hora exata de ficar
e ir embora
mas não vá
domingo, 17 de agosto de 2008
A dor que dói mais
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o escritório e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua pintando o cabelo de vermelho. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango assado, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Pepsi, se ela continua sorrindo, se ele continua dançando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer. É não querer saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo querer. É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros
segunda-feira, 21 de julho de 2008
High And Dry
Dois saltos numa semana
Eu aposto como acha que isso é engenhoso, não acha garoto?
Voando em sua moto
Observando todo chão abaixo de você desabar
Você se mataria por reconhecimento
Se mataria para nunca, jamais parar
Você quebrou outro espelho
Você está se transformando em algo que não é
Não me deixe mal
Não me deixe sozinho
Não me deixe mal
Não me deixe sozinho
Calando-se na conversa
Você será o único que não pode falar
Todo seu interior cairá em pedaços
Você apenas sentado aí desejando que ainda possa amar
Eles são os únicos que te odiariam
Quando você achar que decifrou o mundo
Eles são os únicos que cuspirão em você
Você será o único que estará gritando
Não me deixe mal
Não me deixe sozinho
Não me deixe mal
Não me deixe sozinho
Essa é a melhor coisa que você já teve
A melhor coisa que você sempre, sempre teve
Essa é a melhor coisa que você já teve
A melhor coisa que você já teve se foi
Não me deixe mal
Não me deixe sozinho
Não me deixe mal
Não me deixe sozinho
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.
Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo."
sábado, 28 de junho de 2008
divã
Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa, impulsiva e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos.
Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.
Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também."
Tudo perda de tempo.
Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoraçao ou seu desprezo.
O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.
(trecho de O Divã)
Ausência
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz perenizada
Sumi
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.
sábado, 21 de junho de 2008
Clarice Lispector
saber será talvez o assassinato de minha alma humana. E não quero, não quero. O que ainda poderia me salvar seria uma entrega à nova ignorância, isso seria possível. Pois ao mesmo tempo que luto por saber, a minha nova ignorância, que é o esquecimento, tornou-se sagrada. Sou a vestal de um segredo que não sei mais qual foi. E sirvo ao perigo esquecido. Soube o que não pude entender, minha boca ficou selada, e só me restaram os fragmentos incompreensíveis de um ritual. Embora pela primeira vez eu sinta que meu esquecimento esteja enfim ao nível do mundo. Ah, e nem ao menos quero que me seja explicado aquilo que para ser explicado teria que sair de si mesmo. Não quero que seja explicado o que novo precisaria da validação humana para ser interpretado.
Vida e morte foram minhas, e eu fui monstruosa. Minha coragem foi a de um sonâmbulo que simplesmente vai. Durante as horas de perdição tive a coragem de não compor nem organizar. E sobretudo a de não prever. Até então eu não tivera a coragem de me deixar guiar pelo que não conheço e em direção ao que não conheço: minhas previsões condicionavam de antemão o que eu veria. Não eram as antevisões da visão: já tinham o tamanho de meus cuidados. Minhas previsões me fechavam o mundo.
Até que por horas desisti. E, por Deus, tive o que eu não gostaria. Não foi ao longo de um vale fluvial que andei - eu sempre pensara que encontrar seria fértil e úmido como vales fluviais. Não contava que fosse esse grande desencontro.
Para que continue eu humana meu sacrifício será o de esquecer? Agora saberei reconhecer na face comum de algumas pessoas que - que elas esqueceram. E nem sabem mais que esqueceram o que esqueceram.
Eu vi. Sei que vi porque não dei ao que vi o meu sentido. Sei que vi - porque não entendo. Sei que vi - porque pra nada serve o que vi. Escuta, vou ter que falar porque não sei o que fazer de ter vivido. Pior ainda: não quero o que vi. O que arrebenta a minha vida diária. Desculpa eu te dar isto, eu bem queria ter visto coisa melhor.Toma o que vi, livra-me de minha inútil visão, e de meu pecado inútil.
Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
O jeito deles
Mas também não basta ser inteligente, por mais que a inteligência esteja bem cotada no mercado. Tem que ser inteligente e... algo mais. O que é este algo mais?
Mistério decifrado: é o jeito.
A gente se apaixona pelo jeito da pessoa. Não é porque ele cita Camões, não é porque ela tem olhos azuis: é o jeito dele de dizer versos em voz alta como se ele mesmo os tivesse escrito pra nós; é o jeito dela de piscar demorado seus lindos olhos azuis, como se estivesse em câmera lenta.
O jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de passar a mão no cabelo. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito de sorrir. Vá tentar explicar isso.
Pelo meu primeiro namorado, me apaixonei porque ele tinha um jeito de estar nas festas parecendo que não estava, era como se só eu o estivesse enxergando.
O segundo namorado me fisgou porque tinha um jeito de morder palitos de fósforo que me deixava louca ok, pode rir. Ele era um cara sofisticado, e por isso mesmo eu vibrava quando baixava nele um caminhoneiro.
O terceiro namorado tinha um jeito de olhar que parecia que despia a gente: não as roupas da gente, mas a alma da gente. Logo vi que eu jamais conseguiria esconder algum segredo dele, era como se ele me conhecesse antes mesmo de eu nascer. Por precaução, resolvi casar com o sujeito e mantê-lo por perto.
E teve aqueles que não viraram namorados também por causa do jeito: do jeito vulgar de falar, do jeito de rir sempre alto demais e por coisas totalmente sem graça, do jeito rude de tratar os garçons, do jeito mauricinho de se vestir: nunca um desleixo, sempre engomado e perfumado, até na beira da praia. Nenhum defeito nisso. Pode até ser que eu tenha perdido os caras mais sensacionais do universo.
Mas o cara mais sensacional do universo e a mulher mais fantástica do planeta nunca irão conquistar você, a não ser que tenham um jeito de ser que você não consiga explicar.
Porque esses jeitos que nos encantam não se explicam mesmo.
Promessas de Casamento
- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Dom Quixote
Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos mas sempre no horário
peixe fora d'água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
na ponta dos cascos e fora do páreo
puro sangue, puxando carroça
Um prazer cada vez mais raro
aerodinâmica num tanque de guerra,
vaidades que a terra um dia há de comer.
"Ás" de Espadas fora do baralho
grandes negócios, pequeno empresário.
Muito prazer me chamam de otário
por amor às causas perdidas.
Tudo bem, até pode ser
que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
seja por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas
tudo bem...até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
muito prazer...ao seu dispor
Se for por amor às causas perdidas
por amor às causas perdidas
domingo, 8 de junho de 2008
A SUA
Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz
Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas, te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
Eu só quero que você caiba
No meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás
Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas, te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Mas, te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
E que eu te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
sábado, 7 de junho de 2008
Perdendo os dentes
Pouco adiantou
Acender cigarro
Falar palavrão
Perder a razão
Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém
Acho que eu fico mesmo diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor
As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueci
Eu nunca esqueci
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Não mais
Vou parar ficar aqui
Não olhar ver você assim
Não vou morrer
Não vou matar
Nem sorrir muito menos vou chorar
Por você, por ninguém
Por você por ninguém nem por mim.
Deixa estar que tal mentir
E guardar o melhor pra mim
Não vou morrer nem sequer me abalar
Nem sorrir nem ao menos vou chorar
Quando você não mais, não mais.
Não vou morrer, nem sequer me abalar
Nem sorrir, nem ao menos vou chorar
Mas acredite, meu coração ainda sabe fingir
Por alguém que é ninguém, que é ninguém
Por alguém que é ninguém prá mim.
terça-feira, 3 de junho de 2008
Você é o que ninguém vê
é os nervos a flor da pele, os segredos que guardou,
você é sua praia preferida, aquele amor atordoado que viveu,
a conversa séria que teve um dia com seu pai,
você é o que você lembra...
Você é a saudade que sente da sua mãe,
o sonho desfeito quase no altar,
a infância que você recorda,
a dor de não ter dado certo,
de não ter falado na hora,
você é aquilo que foi amputado no passado,
a emoção de um trecho de livro,
a cena de rua que lhe arrancou lágrimas,
você é o que você chora...
Você é o abraço inesperado,
a força dada para o amigo que precisa,
você é o pêlo do braço que eriça,
a sensibilidade que grita, o carinho que permuta,
você é a palavras dita para ajudar,
os gritos destrancados da garganta,
os pedaços que junta,
você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo,
você é o que você desnuda...
Você é a raiva de não ter alcançado,
a impotência de não conseguir mudar,
você é o desprezo pelo o que os outros mentem,
o desapontamento com o governo,
o ódio que tudo isso dá,
você é aquele que rema, que cansado não desiste,
você é a indignação com o lixo jogado do carro,
a ardência da revolta,
você é o que você queima...
Você é aquilo que reinvidica,
o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta,
você é os direitos que tem, os deveres que se obriga,
você é a estrada por onde corre atrás,
serpenteia, atalha, busca,
você é o que você pleiteia...
Você não é só o que come e o que veste.
Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê.
Você é o que ninguém vê..."
sábado, 31 de maio de 2008
Nua
Olho a cidade ao redor
E nada me interessa
Eu finjo ter calma
A solidão me apressa
Tantos caminhos sem fim
De onde você não vem
Meu coração na curva
Batendo a mais de cem
Eu vou sair nessas horas de confusão
Gritando seu nome entre os carros que vêm e vão
Quem sabe então assim
Você repara em mim
Corro de te esperar
De nunca te esquecer
As estrelas me encontram
Antes de anoitecer
Olho a cidade ao redor
Eu nunca volto atrás
Já não escondo a pressa
Já me escondi demais
Eu vou contar pra todo mundo
Eu vou pichar sua rua
Vou bater na sua porta de noite
Completamente nua
Quem sabe então assim
Você repara em mim
M.M
quinta-feira, 29 de maio de 2008
teoria do Biscoito
Na segunda fase, a gente resolve que não precisa de homem nenhum pra ficar bem, e aí aparece um só pra contradizer nossa certeza de auto-suficiência. Vem todo carinhoso, romântico, paparicante... A gente baixa a guarda, começa a sair com o cara, percebe que ele é interessante, resolve ver no que dá. Vai saindo, conhecendo, ficando... E aí o que acontece? Entra na fase 3: a teoria do Biscoito.
Chega um momento em que vc sente que a estorinha tá evoluindo para um possível compromisso, que está gostando daquele carinha, mesmo que ele não seja o príncipe encantado que sempre habitou seu imaginário de mulherzinha. Só que aí, neste exato momento, TODOS os outros que te dispensaram antes começam a te ligar. Parece que eles farejam no ar, que combinam entre si...Acho que a gente deve exalar algum cheiro diferente que, interpretado pelo cérebro masculino, diz "eu encontrei alguém, não estou disponível". Imediatamente, você se torna o objeto de cobiça de todos eles.
Talvez justamente por estar radiante, feliz e não-disponível. Aí rola aquela seqüência inacreditável de acontecimentos fantásticos. Você tá no vernissage com seu novo pretendente e aquele gatinho que você beijou há dois meses e nunca mais deu notícias começa a te ligar. Você vai pra boate sozinha (no dia que seu gatinho resolve ficar em casa (descansando) e encontra aquele clone do Rodrigo Santoro, que namorava sua colega de serviço na década passada, e ele te olha, te acha linda e quer ficar com você. E aquele outro, que era seu sonho de consumo como namorado perfeito, partidão, mas que sempre te esnobou, começa a te ligar quase diariamente: chama pro cinema, chama pro showzinho, liga para perguntar o que tu tá fazendo, pra te falar do disco novo que comprou, liga só pra ouvir a tua voz...
Tem gente que acha isso o paraíso. Mas na boa, eu acho que só serve pra atrapalhar. Porque, como mulherzinha do bem que sou, eu só quero essa penca de homens me ligando quando tô na guerra, que é pra poder escolher. Mas depois que eu resolvo sossegar com um, não quero que ninguém fique me ligando pra semear a discórdia e a dúvida na minha mente. Mas o babado é resistir às tentações.
De repente, com tantos homens fantásticos te ligando, tu começa a olhar pro seu pretendente atual e a achar que ele não é tão bonito quanto o fulano, nem tão alto e gostoso como o beltrano, nem carinhoso e bem-humorado como o sicrano. Você questiona se não está com ele por pura carência, porque ele apareceu num momento de falta de opções no mercado. E essa é a grande cilada. Muitas não resistem. Dispensam o gatinho atual e tentam administrar todos os outros. Eu já fiz isso.
Aí a Teoria do Biscoito entra na fase final: a de que quem come o pacote inteiro tem indigestão. Fica sem ninguém. Todos somem e você fica sozinha, se perguntando como foi que deixou escapar aquele carinha tão legal com quem estava saindo, só por capricho. Eu não sei se funciona assim para todas as pessoas.. Mas eu decidi que agora vou dizer um sonoro "não, obrigada" para toda a fila de negrescos com super cobertura, e ficar sim com aquele que não é negresco, mas é bono de chocolate. Que não é brastemp super-ultra-mega-estrelinha-plus, mas é consul-slim e se encaixa direitinho na minha casa.
Que não é o príncipe encantado, lindo, maravilhoso, perfeito, em cima do cavalo branco, mas que é um cara real , de carne e osso, que está do meu lado e quer ficar comigo. Quem me diverte e me agrada, e gosta das mesmas músicas que eu, e gosta de dançar música trash dos anos 80, que me apresenta pros amigos sem nenhuma cerimônia, que fica bolando pequenas surpresas pra me fazer e que é, sim, muito lindinho à sua maneira. Simples assim. Se não der certo, não deu. Faz parte da vida. Mas eu não preciso comer o pacote inteiro de negresco pra saber que um bono de chocolate me satisfaz".
Moral da história: já se foi o tempo de ficar em dúvida entre o sapo e o príncipe. A boa é reparar mais no bono de chocolate e deixar de sonhar com o negresco com super cobertura. E que venha a fase 2, a 3... Como diria minha colega de serviço Antonia, todas merecem as melhores fases!
Strip-Tease
Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.
Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".
Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."
Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".
Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".
"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".
E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
Absolvendo o amor
Uma mulher namora um príncipe encantado por dois meses e então descobre que ele não é príncipe porcaria nenhuma, e sim um bobalhão que não soube equalizar as diferenças e sumiu no mundo sem se despedir. Mais um, segundo ela. São todos assim, os homens. Ela resmunga que não dá mesmo para acreditar no amor.
Peraí. Por que o amor tem que levar a culpa por esses desencontros? Que a princesa não acredite mais no Pedro, no Paulo ou no Pafúncio, vá lá, mas responsabilizar o amor pelo fim de uma relação e não querer mais se envolver com ninguém é preguiça de continuar vivendo. Não foi o amor que caiu fora. Aliás, ele talvez nem tenha entrado nessa história. Quando entra, é para contribuir, para apimentar, para dar sabor, para ser feliz. Se o relacionamento não dá certo, ou dá certo por um determinado tempo e depois acaba, o amor merece um aperto de mãos, um muito obrigada e até a próxima. Fique com o cartão dele, com os contatos todos, você vai chamá-lo de novo, vai precisar de seus serviços, esteja certa. Dispense namorados, mas não dispense o amor, porque este estará sempre a postos. Viver sem amor por uns tempos é normal. Viver sem amor para sempre é azar ou incompetência. Mas não pode ser uma escolha, nunca. Escolher não amar é suicídio simbólico, é não ter razão para existir. Não me venha falar de amigos e filhos e cachorros, essas compensações amorosas sofisticadas, mas diferentes. Estamos falando de homens e mulheres que não se conhecem até que um dia, uau. Acontece.
Segunda história. Uma mulher ama profundamente, é amada profundamente, os dois dormem embolados e se gostam de uma forma indecente, de tão certo que dá a relação, e de tão gostosa que são inclusive as brigas. Tudo funciona como um relógio que ora atrasa, ora adianta, mas não pára, um tiquetaque excitante que ela não divulga para as amigas, não espalha, adivinhe por quê: culpa. Morre de culpa desse amor que funciona, desse amor que é desacreditado em matérias de jornal e em pesquisas, desse amor que deram como morto e enterrado, mas que na casa dela vive cheio de gás e ameaça ser eterno. Culpa, a pobre mulher sente, e mais: sente medo. Nem sabe de quê, mas sente. Medo de não merecê-lo, medo de perdê-lo, medo do dia seguinte, medo das estatísticas, medo dos exemplos das outras mulheres, daquele mulher lá do início do texto, por exemplo, que se iludiu com mais um bobalhão que desapareceu sem deixar rastro-ou bobalhona foi ela, nunca se sabe. Mas o fato é que terminou o amor da mulher lá do início do texto, enquanto essa criatura feliz e apaixonada, é ao mesmo tempo infeliz e temorosa porque sente aquilo que tanta gente busca e pouco encontra: o tal amor como se sonha.
Uma mulher infeliz por amar de menos, outra infeliz por amar demais, e o amor injustamente crucificado por ambas. Ele, coitado, sendo acusado de provocar dor, quando deveria ser reverenciado simplemente por ter acontecido na nossa vida, mesmo que sua passagem tenha sido breve. E se não foi, se permaneceu em nossa vida, aí nem se fala. Qualquer amor-até aqueles que a gente inventa- merece nossa total indulgência, porque quem costuma estragar tudo, caríssimos, somos nós.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
terça-feira, 27 de maio de 2008
FAZ DE CONTA
Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: FAZ DE CONTA QUE EU TE AMO.
Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: FAZ DE CONTA QUE EU DOU CONTA DO RECADO.
Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO QUERO.
Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto:FAZ DE CONTA QUE EU ME IMPORTO.
Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO SOFRO.
Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: FAZ DE CONTA QUE EU ENTENDO.
Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: FAZ DE CONTA QUE EU COZINHO.
Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy:FAZ DE CONTA QUE NÃO DÓI.
Let Down
Transportes
Motovías e trólebus
Andando e então parando
Decolando e aterrissando
A mais vazia sensação
Pessoas desapontadas
Apegando-se a frascos
E quando chega é tão decepcionante
Decepcionado e abandonado
Esmagado como um inseto no chão
Decepcionado e abandonado
Concha quebrada
Sucos fluindo
Asas arrancadas
Pernas se vão
Não fique sentimental,
Sempre acabará como um babaca
Um dia
Vão me crescer asas
Uma reação química
Histérica e inútil
Histérica e decepcionado e abandonado
Esmagado como um inseto no chão
Decepcionado e abandonado
Você sabe
Você sabe onde você está com
Pisos quebrados e instáveis fortificando-se de volta
E um dia você saberá onde você está
domingo, 25 de maio de 2008
SONHO
Come Here
Há um vento que vem do norte.
E diz que o amor pega este caminho.
Venha aqui. Venha aqui.
não eu não impossivel de tocar eu nunca desejei isso tanto assim.
Venha aqui. Venha aqui.
Tenha-me, eu nunca ficarei abaixo, mas do seu lado.
baby, vamos esqueçer deste orgulho.
Venha aqui. Venha aqui.
Bem eu não tenho pressa. Não tenha que correr dessa vez.
Eu sei que você é tímido.
Mas tudo vai dar certo dessa vez.
Música perfeita, para um filme perfeito.
Imagem: Before surinse. Maravilhoso.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Um conto de fadas diferente
Pensava sim, e namorou o Mateus, o Luis, o Jairo, o Renato, o André, o Ruy e o Vinicius. "Quando é que você vai escolher um pra vida inteira?" Ela respondia que não acreditava em contos de fada nem em final feliz, e a família dizia que ela iria mudar de idéia quando se apaixonasse. Ela não se apaixonou, mas conheceu um cara legal, que pensava parecido com ela, e os dois namoraram e depois, sob aplausos da platéia, casaram. Tiveram três filhos. Ela tinha um emprego, ele tinha um emprego. Eram populares, católicos e felizes. Passaram-se os anos e eles seguiam populares, católicos e felizes. Outros tantos anos e eles eram o que os outros haviam se acostumado a pensar deles: populares, católicos e felizes, mas eles mesmos já não sabiam direito o que eram. Os filhos cresciam e a moça passava os dias cada vez mais anestesiada pela rotina, até que um belo dia ela comeu uma maçã e foi pra cama dormir. Não acordou mais. Quer dizer, ela levantava, tomava banho e saía para o trabalho, mas parecia morta...As pessoas não a notavam. Ela tampouco percebia os outros. E assim caminhavam todos para o final desta história quando surgiu um homem não se sabe de onde e reparou que ela parecia morta, mas não estava. Achou-a linda e deu-lhe um beijo. Ela acordou e sua vida começou a ser contada sob um novo ponto de vista
O cotidiano imutável nos envenena. É preciso um beijo para despertar para a vida. O verdadeiro príncipe é aquele que nos acorda e nos faz mudar o rumo da nossa história.
Romeu e Julieta
Ontem resolvi ver Romeu e Julieta depois de anos sem ver.
E apesar deles se apaixonarem muito rápido eu chorei, chorei mais pelo fato de ter tocado radiohead no momento mais foda, ai foi de matar.
Sabem porque Romeu e Julieta são ícones do amor ?
São falados e lembrados, atravessaram os séculos incólumes no tempo,
se instalando no mundo de hoje como casal modelo de amor eterno ?
Porque morreram e não tiveram tempo de passar pelas adversidades
que os relacionamentos estão sujeitos pela vida afora.
Senão provavelmente Romeu estaria hoje com a Manoela e Julieta com o Ricardão.
Romeu nunca traiu a Julieta numa balada com uma loira linda e siliconada
motivado pelo impulso do álcool.
Julieta nunca ficou 5 horas seguidas esperando Romeu,
fumando um cigarro atrás do outro,
ligando incessantemente para o celular dele que estava desligado.
Romeu não disse para Julieta que a amava,
que ela especial e depois sumiu por semanas.
Julieta não teve a oportunidade de mostrar para ele
o quanto ficava insuportável na TPM.
Romeu não saia sexta feira a noite para jogar futebol com os amigos
e só voltava as 6:00 da manhã bêbado e com um sutiã
perdido no meio da jaqueta (que não era da Julieta).
Julieta não teve filhos, engordou, ficou cheia de estria e celulite
e histérica com muita coisa para fazer.
Romeu não disse para Julieta que precisava de um tempo, que estava confuso,
querendo na verdade curtir a vida e que ainda era muito novo
para se envolver definitivamente com alguém.
Julieta não tinha um ex-namorado em quem ela sempre pensava
ficando por horas distante, deixando Romeu com a pulga atrás da orelha.
Romeu nunca deixou de mandar flores para Julieta
no dia dos namorados alegando estar sem dinheiro.
Julieta nunca tomou um porre fenomenal e num momento de descontrole
bateu na cara do Romeu no meio de um bar lotado.
Romeu nunca duvidou da virgindade da Julieta.
Julieta nunca ficou com o melhor amigo de Romeu.
Romeu nunca foi numa despedida de solteiro com os amigos num prostíbulo.
Julieta nunca teve uma crise de ciúme achando que Romeu
estava dando mole para uma amiga dela.
Romeu nunca disse para Julieta que na verdade
só queria sexo e não um relacionamento sério,
ela deve ter confundido as coisas.
Julieta nunca cortou dois dedos de cabelo
e depois teve uma crise porque Romeu não percebeu a mudança.
Romeu não tinha uma ex-mulher que infernizava a vida da Julieta.
Julieta nunca disse que estava com dor de cabeça e virou para o lado e dormiu.
Romeu nunca chegou para buscar a Julieta
com uma camisa xadrez horrível de manga curta
e um sapato para lá de ultrapassado,
deixando-a sem saber onde enfiar a cara de vergonha.
Por estas e outras que eles morreram se amando.