Só não se perca ao entrar no meu infinito particular...

Só não se perca ao entrar no meu infinito particular...

domingo, 28 de setembro de 2008

O amor não acaba, nós é que mudamos



Um homem e uma mulher vivem uma intensa relação de amor, e depois de alguns anos se separam, cada um vai em busca do próprio caminho, saem do raio de visão um do outro. Que fim levou aquele sentimento? O amor realmente acaba?

O que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos, que são subtituídos por outros no decorrer da vida. As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades. O amor costuma ser amoldado à nossa carência de envolvimento afetivo, porém essa carência não é estática, ela se modifica à medida que vamos tendo novas experiências, à medida que vamos aprendendo com as dores, com os remorsos e com nossos erros todos. O amor se mantém o mesmo apenas para aqueles que se mantém os mesmos.

Se nada muda dentro de você, o amor que você sente, ou que você sofre, também não muda. Amores eternos só existem para dois grupos de pessoas. O primeiro é formado por aqueles que se recusam a experimentar a vida, para aqueles que não querem investigar mais nada sobre si mesmo, estão contentes com o que estabeleceram como verdade numa determinada época e seguem com esta verdade até os 120 anos. O outro grupo é o dos sortudos: aqueles que amam alguém, e mesmo tendo evoluído com o tempo, descobrem que o parceiro também evoluiu, e essa evolução se deu com a mesma intensidade e seguiu na mesma direção. Sendo assim, conseguem renovar o amor, pois a renovação particular de cada um foi tão parecida que não gerou conflito.

O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.

Martha Medeiros

qual é?

25 anos e minha vida ainda está tentando
Subir aquela grande montanha de esperança
Por um destino
Eu percebi rapidamente quando eu soube que o mundo
Nunca seria essa fraternidade de homens
Seja qual for o significado

E então eu choro algumas vezes
Quando estou deitada na cama
Apenas pra esquecer tudo isso
Que está em minha cabeça
E eu, eu me sinto um pouco estranha...

E então eu acordo de manhã
E piso no lado de fora
E dou uma respirada profunda
E eu grito com toda a força de meus pulmões
O que está acontecendo? (Qual é?)

Eu disse: hey yeah yeaah, hey yeah yea
Eu digo: hey! qual é?

Eu tentei oh meu Deus, eu tentei?
Eu tentei todo o tempo nesta instituição
E rezei... oh meu Deus como rezei
Por uma revolução...

E então eu choro algumas vezes
Quando estou deitada na cama
Apenas pra esquecer tudo isso
Que está em minha cabeça
E eu, eu me sinto um pouco estranha...
(...)

sábado, 27 de setembro de 2008

Um cara difícil

"Prezada leitora, se um dia você sair com um cara pela primeira vez, motivada a iniciar um relacionamento amoroso, e ele adverti-la dizendo “sou um cara difícil”, acione a luz amarela. O.k., pode ser que seja apenas charminho dele, uma maneira de se valorizar aos seus olhos – usou o adjetivo “difícil” como o oposto de “tedioso”. Sim, talvez ele só queira deixá-la ainda mais a fim, dizendo uma frase desafiadora que pode ser traduzida como: será que você consegue dar conta do seu temperamento explosivo, terá atributos suficientes para me amansar e me fazer virar um cordeiro na sua mão? Mulheres adoram esse joguinho perigoso. Só que pode não ser jogo algum, e ele estar sendo absolutamente modesto na sua própria descrição. Talvez ele não seja difícil e, sim, impossível.Nenhum de nós é muito fácil, nem homens, nem mulheres. Só o fato de termos sido criados em cativeiro numa família com suas próprias regras, valores e manias já faz de cada um de nós uma aposta arriscada na hora d éter que negociar com uma espécie nascida em um cativeiro diferente. Mas, como relações entre irmãos são veementemente desaconselhadas, o jeito é procurar uma alma gêmea na praia, no bar, na rave, e torcer para que ele não dê o fatídico aviso “sou um cara difícil”, porque se ele for mais difícil do que todos naturalmente são, aí danou-se. O cara difícil vai estar superentusiasmado quando falar com você ao telefone pela manhã, e à tardinha ligará de novo para desmarcar o cinema porque precisa ficar sozinho. E o mais grave: ele vai mesmo ficar sozinho, com a luz apagada, em embate silencioso com seus demônios internos.
Quando vocês estiverem na platéia de um show com três mil pessoas, ele vai encasquetar que um homem de camiseta verde está olhando com insistência para você, e vai ter certeza de que você está retribuindo o olhar, e você vai perder a voz tentando explicar, no meio daquela barulheira, que tem pelo menos 800 marmanjos de camisa verde em volta, todos olhando pro palco. Aliás, se estivessem olhando para você, qual o problema, ele não se garante?Que audácia, você peitou o cara difícil. Ele vai deixá-la sozinha no show e desligará o celular por três dias. Se você não amá-lo, o prejuízo será apenas a bandeirada do táxi que você terá que pagar para voltar para casa, mas se você o ama, prepare-se para esvair-se em explicações e declarações, a fim de trazê-lo de volta à realidade. Um cara difícil exige uma paciência oceânica. Ele vai ser romântico e muito bruto. Ele vai ser generoso e muito casca-grossa. Ele vai dizer a verdade e vai mentir às vezes. Ele vai fazê-la se sentir uma eleita entre todas e depois vai dar mole para muitas. Ele vai implicar com as mínimas coisas, e com as grandes também. Ele vai exibir qualidades que você nem sabia que um homem poderia ter, e em troca vai abusar de todos os defeitos que você sabia que todo homem tinha. Ele vai ser ótimo na cama. Vai ser um perigo dirigindo um carro. Vai ser gentil com a sua mãe. Vai ser um brucutu com a mãe dele. Ele mudará de humor a cada 20 minutos, ele vai brigar por nada, vai beijá-la demoradamente por horas e, com essa bipolaridade bem ou mal disfarçada, ele a deixará tão tonta e exausta que você pensará que foi atropelada por um trem descarrilado.-Quem sou eu?- será sua primeira pergunta ao acordar sobre os trilhos. No primeiro encontro, pergunte:-Você é um homem difícil?Se ele responder que é, procure imediatamente um psicanalista. Para você, santa. "

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

simplicidade

Quando tinha 15 anos, esperava um dia ter um namorado... seria bom se fosse alegre e amigo...

Quando tinha 18 anos, encontrei esse garoto e namoramos; ele era meu amigo, mas não tinha paixão por mim.

Então percebi que precisava de um homem apaixonado, com vontade de viver, que se emocionasse...

Na faculdade saía com um cara apaixonado, mas era emocional demais.

Tudo era terrível, era o 'rei dos problemas', chorava o tempo todo e ameaçava suicidar-se.

Descobri então, que precisava de um rapaz estável.

Quando tinha 25 anos encontrei um homem bem estável, sabia o que queria da vida; mas era muito chato: queria sempre as mesmas coisas dormir no mesmo lado da cama, feira no sábado e cinema no domingo.

Era totalmente previsível e nunca nada o excitava..

A vida tornou-se tão monótona que decidi que precisava de um homem mais excitante.

Aos 30, encontrei um tudo de bom, brilhante, bonito, falante e excitante, mas não consegui acompanhá-lo. Ele ia de um lado para o outro, sem se deter em lugar nenhum.

Fazia coisas impetuosas, paquerava qualquer uma e me fez sentir tão miserável, quanto feliz.

No começo foi divertido e eletrizante, mas sem futuro.

Decidi buscar um homem com alguma ambição para com ele construir uma vida segura.

Procurei bastante, incansavelmente... Quando cheguei aos 35, encontrei um homem inteligente, ambicioso e com os pés no chão. Apartamento próprio, casa na praia, carro importado... Solteiro e sem rolos! Pensei logo em casar com ele. Mas era tão ambicioso que me trocou por uma herdeira rica...

Hoje, depois de tudo isso, gosto de homens com pinto duro... E só!

Nada como a simplicidade...

O que quer uma mulher
Um bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina! A mãe da criança,
então, se põe a sonhar com o dia em que a sua princesinha terá um
namorado de olhos verdes e casará com ele, vivendo feliz para sempre.
A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações.
Laçarotes, babados, contos de fadas: toda mulher carrega a síndrome de
Walt Disney.
Até as mais modernas e cosmopolitas têm o sonho secreto de encontrar
um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas,
nos conformamos com analistas de sistemas, gerentes de marketing,
engenheiros mecânicos. Ou mecânicos de oficina mesmo, a situação não
anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, nos ajudam
com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer
em nos levar para jantar. São príncipes à sua maneira, e nós,
cinderelas improvisadas, dizemos sim! sim! sim! diante do altar; mas,
lá no fundo, a carência existencial herdada no berço jamais será
preenchida.
Queremos ser resgatadas da torre do castelo. Queremos que o nosso
pretendente enfrente dragões, bruxas, lobos selvagens. Queremos que
ele sofra, que vare a noite atrás de nós, que faça tudo o que o José
Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas.
Queremos ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num
saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de nos impedir de
embarcar।
O amor na vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo"
virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre
casais, é mais fácil ouvir eu "te amo" ao encerrar uma ligação
telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se
xingado por meia-hora. "Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa
paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a
mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou prepar o jantar para você
às dez da noite, te vira. Tchau, também te amo." E batem o telefone
possessos.
Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas.
Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos
abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam
meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são
heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a
maioria tentaria nos resgatar de um prédio em chamas, caso a escada
magirus alcançasse o nosso andar. Não é nada, não é nada, mas já é
alguma coisa.
Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma
mulher, mas vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam
quarto em hotéizinhos secretos, surpreendem com presentes, passagens
aéreas, convites inusitados. São inteligentes, charmosos, ousados,
corajosos, batalhadores.
Disputam nosso amor como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o
que recebem em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela,
suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é. .........
Perdoem esse nosso desvio cultural, rapazes. Nenhuma mulher se sente
amada o suficiente.

- Martha Medeiros -

Eu cresci. Por dentro e por fora (e, reconheço, pros lados).

Sou gente grande, como se diz por aí. E o mundo à minha

volta, à nossa volta, virou aldeia, somos todos vizinhos,

todos vivendo apertados, financeira e emocionalmente

falando. Saudade de uma alegria descomunal, de uma

esperança gigantesca, de uma confiança do tamanho do

futuro - quando o futuro também era infinito à minha frente.
Digamos que você não seja
tão seguro e inteligente como diz
Vai ver me trai toda semana
leva pra cama minha melhor amiga
faz intriga a meu respeito
fala mal dos meus defeitos
garanto que não usa a gravata que dei
Pode ser que você não goste
dos beijos que diz gostar
faz tudo só por fazer e me testar
Vai ver não tem nem emprego
pede dinheiro emprestado
bate com o carro no meio-fio
você não tem nenhum carácter
passou por mim e fingiu que não viu
Vai ver você morre de medo
de se olhar no espelho de dia
seu saldo está no vermelho
seu cão morto da fome
e você com raiva da vida
digamos que você não seja solteiro
e eu entrei numa fria
No começo eu prestava atenção
em todas as palavras que você ia me dizendo
me custava muito acreditar
que aquilo tudo estava acontecendo
Eu sentia que você não queria me magoar
Escolhia cada letra e cada pausa desviava o olhar
nas horas em que era inevitável dizer o que pretendia
Você pretendia me deixar, deixava claro
que fomos ótimos parceiros
mas que de agora em diante
era cada um pro seu lado apesar da saudade
Era assim que tinha que ser
Você não respondeu minhas perguntas
foi evasivo gaguejou
fugiu do assunto váirias vezes e quando
voltava era pra repetir:
não da mais
não da mais, não posso mais,
não vou deixar você tirar sua paz,
eu concordo
aceito, assino a separação,
não vou fazer escândalo
e quando eu encontrar com essa que tomou meu lugar
(é evidente não venha me negar),
vou ser civilizada
não vou quebrar pratos nem te constranger
você não vai mais me reconhecer,
não vai mais me proteger
não vai mais me amar,
não vai mais telefonar
não vai mais aparecer,
não vai mais dizer meu nome,
não, agora eu já não estou te ouvindo mais.

(Poesia Reunida)
.."Quero uma primeira vez outra vez. Um primeiro beijo em alguém que ainda não conheço, uma primeira caminhada por uma nova cidade, uma primeira estréia em algo que nunca fiz, quero seguir desfazendo as virgindades que ainda carrego, quero ter sensações inéditas até o fim dos meus dias.

Quero ventilação, não morrer um pouquinho a cada dia sufocada em obrigações e em exigências de ser a melhor mãe do mundo, a melhor esposa do mundo, a melhor qualquer coisa. Gostaria de me reconciliar com meus defeitos e fraquezas, arejar minha biografia, deixar que vazem algumas idéias minhas que não são muito abençoáveis.

Queria não me sentir tão responsável sobre o que acontece ao meu redor. Compreender e aceitar que não tenho controle nenhum sobre as emoções dos outros, sobre suas escolhas, sobre as coisas que dão errado e também sobre as que dão certo. Me permitir ser um pouco insignificante.

E na minha insignificância, poder acordar um dia mais tarde sem dar explicação, conversar com estranhos, me divertir fazendo coisas que nunca imaginei, deixar de ser tão misteriosa pra mim mesma, me conectar com as minhas outras possibilidades de existir. O que eu quero mais? Me escutar e obedecer o meu lado mais transgressor, menos comportadinho, menos refém de reuniões familiares, marido, filhos, bolos de aniversário e despertadores na segunda-feira de manhã. E também quero mais tempo livre. E mais abraços"...


Martha Medeiros
"Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, inquieta na minha comodidade.
Pinto a realidade com alguns sonhos, e transformo alguns sonhos em cenas reais.
Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz. Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada. Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais. Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo. Nem eu sou o que penso que eu sou. Nem nós o que a gente pensa que tem.
Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol."
De todos meus versos de amor
as rimas e frases reinventadas
as jogadas de efeito
os subterfugios e os hai-kais
anotações de diário
de todos os nomes que dei
para crises de adolescência
e carencias plagiadas
de todo minimalismo
clichês e letras de música
De toda minha literatura
você foi minha melhor página.
Foi então que ela viu no calendário

um sofrimento diário

uma dor que tinha número

e uma aflição que já havia um mês



Foi então que resolveu queima-lo

e trocá-lo por uma ampulheta

que baixa o amor mais rápido

e mata o amor de vez.

(Poesia Reunida)
Tarde demais
A beleza e a tristeza da vida podem estar em situações como esta:


- descobrir, tarde demais, que se ama uma pessoa.


Pode acontecer até com quem está ao nosso lado neste instante.


Parece que é um amor morno e sem graça, e que se acabar,


tanto faz, e só daqui a muitos anos descobrir que nada era mais forte


e raro do que este sentimento.


Tarde demais é uma expressão cruel.


Tarde demais é uma hora morta.


Tarde demais é longe à beça.


Não é lá que devemos deixar florescer nossas descobertas.

नेन्हुमा पेस्सोया é लुगर दे repouso

Interrompendo as buscas

ASSISTINDO AO ÓTIMO “CLOSER — Perto demais”, me veio à lembrança um poema chamado “Salvação”, de Nei Duclós, que tem um verso bonito que diz: “Nenhuma pessoa é lugar de repouso”. Volta e meia este verso me persegue, e ele caiu como uma luva para a história que eu acompanhava dentro do cinema, em que quatro pessoas relacionam-se entre si e nunca se dão por satisfeitas, seguindo sempre em busca de algo que não sabem exatamente o que é. Não há interação com outros personagens ou com as questões banais da vida. É uma egotrip que não permite avanço, que não encontra uma saída — o que é irônico, pois o maior medo dos quatro é justamente a paralisia, precisam estar sempre em movimento. Eles certamente assinariam embaixo: nenhuma pessoa é lugar de repouso.

Apesar dos diálogos divertidos, é um filme triste. Seco. Uma mirada microscópica sobre o que o terceiro milênio tem a nos oferecer: um amplo leque de opções sexuais e descompromisso total com a eternidade — nada foi feito pra durar. Quem não estiver feliz, é só fazer a mala e bater a porta. Relações mais honestas, mais práticas e mais excitantes. Deveria parecer o paraíso, mas o fato é que saímos do cinema com um gosto amargo na boca.

Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras, aprendemos a lidar com as nossas perdas e já não temos tantas ilusões. Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa que, sozinha, conseguirá corresponder 100% a todas as nossas expectativas — sexuais, afetivas e intelectuais. Os que não se conformam com isso adotam o rodízio e aproveitam a vida. Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não? O problema é que ninguém é tão maduro a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência. Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo, ainda guardamos resquícios dos contos de fada. Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco, nos seduzindo com propostas tipo “leve dois, pague um”, também nos parece tentadora a idéia de contrariar o verso de Duclós e encontrar alguém que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas.

Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento que já não é apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silêncio compartilhado, sem ninguém mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade. Quando se está há muitos anos com a mesma pessoa, há grande chance de ela conhecer bem você, já não é preciso ficar explicando a todo instante suas contradições, seus motivos, seus desejos. Economiza-se muito em palavras, os gestos falam por si. Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso?

Longas relações conseguem atravessar a fronteira do estranhamento, um vira pátria do outro. Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar, mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções. Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento. Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou café, a isso chama-se trégua. Uma relação calma entre duas pessoas que, sem se preocuparem em ser modernos ou eternos, fizeram um do outro seu lugar de repouso. Preguiça de voltar à ativa? Muitas vezes, é. Mas também, vá saber, pode ser amor.