Só não se perca ao entrar no meu infinito particular...

Só não se perca ao entrar no meu infinito particular...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Querida mãe, querido pai,
Não sei mais conviver com as pessoas. Tenho medo de uma casa cheia de pais e mães e irmãos e sobrinhos e cunhados e cunhadas. Tenho vivido tão só durante tantos – quase 40 – anos. Devo estar acostumado.

Dormir 24 horas foi a maneira mais delicada que encontrei de não perturbar o equilíbrio de vocês – que é muito delicado. E também de não perturbar o meu próprio equilíbrio – que é tão ou mais delicado.
Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como "eu gosto de você". Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la.

Amo vocês como quem escreve para uma ficção: sem conseguir dizer nem mostrar isso. O que sobra é o áspero do gesto, a secura da palavra. Por trás disso, há muito amor. Amor louco – todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado – nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados. Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto.

Amo vocês, seu filho,
Caio

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"Releio Alice no País das Maravilhas e descubro que sou uma a que caiu na toca do coelho e ainda não conseguiu entender tudo (jamais saberei).
A gente olha em volta, o olho arregala, o coração bate.
O ano tá terminando, meu amigo. Menos um.
Os votos de feliz-ano-novo foram proibidos.
Uma das coisas boas desse ano que passou foi conhecer você.
Fique contente, dentro do possível, fique contente..."